Como melhorar a imunidade?
Ciências da vida

Como melhorar a imunidade?

Dando sequência às dúvidas mais comuns sobre imunidade, outra pergunta frequente é: “como melhorar a imunidade?”. Antes disso, precisamos entender o que está por trás dessa pergunta. Faria sentido “aumentar” ou “melhorar” a imunidade? Não e sim. Já explico.

Tomando como base o texto anterior, sabemos que defeitos do sistema imune levando ao seu menor funcionamento são raros, enquanto as infecções são eventos muito frequentes e até certo ponto “esperados”. Sob esse ponto de vista, a resposta é: não. Não é necessário (nem seria possível, mesmo que quiséssemos) aumentar a imunidade para pessoas que não têm nenhuma doença do sistema imune.

Em outras palavras, se “aumentar” a imunidade é se tornar um super-humano, que não sofre de nenhuma infecção, esqueça. Do ponto de vista científico, esse desejo não faz sentido. Apesar disso, devemos ter em mente que a atividade do nosso sistema imune (ou seja, nossa imunidade) pode ser prejudicada, temporária ou definitivamente. No texto anterior demos exemplos de condições em que há imunossupressão, secundária a inúmeros fatores.

Então, há situações em que a resposta é: sim. É possível cuidarmos do nosso sistema imune para que ele seja o melhor possível. Nesse sentido, temos atitudes que podem aumentar a imunidade de um sistema imune combalido por diversos fatores, inclusive o estresse, a má alimentação, a falta de atividade física regular, a privação de sono etc..

Começaremos nos aprofundando um pouco mais no que sentem as pessoas com imunodeficiência (primária e secundária), para em seguida conversarmos sobre o que é necessário para um bom funcionamento do sistema imune. Por fim, discutiremos se alimentos, suplementos e remédios podem aumentar a imunidade.

Pergunta n. 3: Quais os sintomas da imunodeficiência?

Sintomas relacionados às infecções são os mais óbvios (febre, mal-estar etc.). Mas haveria outros sintomas que ocorrem na ausência de uma infecção? Para facilitar o entendimento, veremos os sintomas mais comuns de imunodeficiência primária, depois os de secundária.

Imunodeficiência primária

Em quase todos os casos de imunodeficiência primária, o defeito do sistema imune é genético (ou seja, foi herdado). Assim, há uma chance razoável de que mais membros da família tenham sintomas semelhantes e isso deve ser investigado. Outro ponto a ser notado é o retardo do crescimento ou outras alterações do desenvolvimento normal da criança. No exame físico, algumas crianças podem ter aumento persistente dos linfonodos e do baço, além de alguns tipos de inflamação crônica da pele (dermatite).

As imunodeficiências primárias são herdadas. Algumas vezes é preciso examinar os genes para o diagnóstico preciso.

Há, também, maior frequência de doenças alérgicas (respiratórias e cutâneas) em crianças com imunodeficiência primária.

Para aproximadamente 50% dos casos de imunodeficiência primária o problema está na produção de anticorpos, levando a maior chance de infecções bacterianas (sinusites, otites, pneumonias etc.). Não esqueçamos que causas secundárias podem ser concomitantes à imunodeficiência primária, como má-nutrição e uso de medicamentos que causam imunossupressão, e a avaliação médica deve ser capaz de julgar o quanto cada fator pode contribuir.

Em pacientes com imunodeficiência primária as infecções levam mais tempo para ser debeladas. Além disso, é frequente que essas infecções se apresentem de forma atípica, com sintomas mais intensos, e necessitem de internação, às vezes prolongada.

Germes oportunistas

Outro aspecto a ser levado em conta é a ocorrência de infecções por germes que muito dificilmente conseguiriam nos invadir e causar infecção se o sistema imune estivesse funcionando corretamente. Há vários desse tipo, que só causam doença quando têm a oportunidade de enfrentar um sistema imune deficiente, sendo, por isso, chamados de germes oportunistas.

As infecções por germes oportunistas são outra característica que devem levar à investigação sobre imunodeficiência (primária ou secundária). Elas podem ser causadas por vírus, bactérias, fungos e protozoários. Alguns exemplos de infecções oportunistas são: candidíase (infecção por cândida, um fungo que causa sapinho nos bebês) dos órgãos internos (tubo digestivo, cérebro, coração etc.), ou mesmo cutânea, se resistente a diversos tratamentos; infecções intestinais (diarreia crônica) por criptosporídio e giárdia, protozoários que podem contaminar a água e causar diarreia com resolução espontânea na maioria das pessoas com bom funcionamento do sistema imune, mas que pode ser muito grave e durar muitas semanas ou meses em indivíduos com imunodeficiência.

À esquerda o criptococo (fungo) e à direita a giárdia (protozoário). Ambos causam infecções oportunistas em pacientes com imunodeficiência.
Algumas infecções mais que outras

A depender do componente do sistema imune afetado (anticorpos, células, outras proteínas do sangue etc.), algumas infecções podem ser mais frequentes que outras, dando pistas ao especialista sobre a origem do problema. Por exemplo, deficiências de anticorpos costumam aumentar a chance de infecções bacterianas, em especial de vias aéreas, e diarreia crônica. Deficiências de tipos específicos de linfócitos (linfócitos T) podem resultar em maior susceptibilidade a infecções crônicas e recorrentes por fungos (cândida) e vírus (mononucleose infecciosa, citomegalovirose etc.).

Há casos, ainda mais raros (que acometem 1 a cada 50.000 pessoas), de combinação entre baixos níveis de anticorpos e problemas dos linfócitos T, com infecções graves, a maioria das vezes fatais nos primeiros meses ou anos de vida.

Outros sintomas

Indivíduos com imunodeficiência primária podem ter manifestações de outras doenças do sistema imune, levando a diversos tipos de inflamação da pele, inflamação das juntas e de vários outros órgãos. Isso constitui o que chamamos de autoimunidade, uma resposta imune contra o que é próprio. Trata-se de um erro do sistema imune, ao reconhecer como estranho os órgãos do próprio corpo. A autoimunidade pode vir a ser tema de outro texto.

Imunodeficiência secundária

A imunodeficiência secundária pode ocorrer em qualquer idade, acometendo indivíduos que previamente não tinham qualquer problema em lidar com infecções. Assim, imunodeficiência secundária pode ser circunstancial e tratável de forma definitiva.

Desnutrição

A desnutrição é a causa mais frequente de imunodeficiência secundária. Por ser um problema que afeta o corpo como um todo, causando mau funcionamento de vários órgãos e sistemas, o efeito da desnutrição no sistema imune também é global, podendo levar à perda de função de vários tipos de glóbulos brancos e a baixos níveis de anticorpos. Dessa forma, pessoas desnutridas podem ter quaisquer tipos de infecção: sejam as que todos temos, mas com maiores frequência e gravidade, sejam as oportunistas (por todos os tipos de germes).

Desnutrição é a principal causa de imunodeficiência secundária. As crianças são as que mais sofrem. Adaptado de https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Depiction_of_children_suffering_from_two_types_of_malnutrition.png

As infecções prolongadas e repetidas levam a um estado de constante mal-estar e perda de apetite, além de ser motivo de maior gasto de energia. O resultado disso é um estado nutricional ainda mais deficiente, um ciclo vicioso que exigirá alimentação adequada por longo período para ser resolvido.

Várias doenças crônicas, em especial dos adultos, podem resultar em desnutrição: cânceres, doenças autoimunes, infecções crônicas (tuberculose, hepatites virais, SIDA), cirrose hepática, insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca avançada, internação prolongada em UTI e muitas outras. O cuidado nutricional em pacientes com doenças crônicas deve ser constante. Além de ajudar na recuperação da doença de base (ou seja, a doença principal), previne infecções que poderiam, de outra forma, abreviar a vida. Infecções são o motivo de internação para 50% das crianças desnutridas.

Outras doenças

Várias doenças podem causar piora da imunidade, a despeito dos aspectos nutricionais.

Diabetes mellitus não tratado é uma causa importante de imunodeficiência secundária, podendo afetar todos os componentes do sistema imune. O excesso de açúcar faz com que anticorpos e células do sistema imune funcionem mal. Além disso, com o tempo, o diabetes pode levar a perdas de sensibilidade e consequentes lesões traumáticas da pele, e estas são o que se costuma chamar de “portas de entrada” para germes.

As insuficiências de órgãos também causam piora global do funcionamento do sistema imune, como a insuficiência renal, a hepática (cirrose) e a cardíaca. A insuficiência respiratória crônica (como nos casos de enfisema pulmonar, por exemplo) também pode levar a imunodeficiência, em especial com relação às infecções de vias aéreas e dos pulmões. O tabagismo contínuo por muitos anos pode se enquadrar nesta situação também, independente de o indivíduo ter ou não diagnóstico de enfisema ou bronquite crônica.

O etilismo crônico, além de ser um fator de risco para cirrose hepática, leva à imunodeficiência global pelo efeito tóxico do álcool, mas também pela alimentação inadequada (e consequente desnutrição) que esses indivíduos têm.

Estados depressivos graves também já foram associados à imunodeficiência. Muito disso pode estar relacionado à secreção aumentada de cortisol (como tratamos em texto anterior) que ocorre no estresse crônico. Também pode ocorrer, nesses casos, a má alimentação com consequente desnutrição.

O estresse crônico é um fator suspeito de interferir de várias formas na saúde, embora seja difícil de averiguar exatamente quais são seus efeitos, algo que também discuti em maior detalhe noutro texto. Ele parece aumentar a ocorrência de infecções comuns das vias aéreas (resfriados e gripes) e a recorrência de herpes labial.

O estresse crônico tem importante associação com imunossupressão, como explicado aqui. Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Vigilância contra tumores

Não é só com relação às infecções que devemos nos preocupar quando falamos em imunidade. Ainda não escrevi sobre este assunto nesta série de textos: o sistema imune também nos defende dos nossos próprios erros. Nossas células cometem erros, em especial quando vão se multiplicar. Parte desses erros ocorre na duplicação do DNA (nossos genes), podendo resultar em mutações (alterações na “forma” de um gene) que aumentam a chance de essas células se descontrolarem e passarem a se multiplicar de forma desordenada e sem função. É assim que surge uma célula cancerígena.

Não se assuste, mas já aconteceu diversas vezes em você. Sem sabermos, já tivemos células que sofreram mutação e poderiam ter originado um câncer, só que nosso sistema imune as reconheceu como “estranhas” e deu um fim nelas. Para poder reconhecê-las como estranhas e dar cabo delas, todos os componentes do sistema imune devem estar funcionando em harmonia, em especial as células.

Um sistema imune cronicamente deficiente pode deixar “escapar” uma célula cancerígena e originar algum tipo de tumor.

Pergunta n. 4: Como aumentar a imunidade?

A maior parte das vezes em que ouvi essa pergunta ela veio de alguém sem qualquer sinal de imunodeficiência. Eram pessoas preocupadas com suposto excesso de infecções de vias aéreas superiores (gripes e resfriados) e herpes labial.

Tendo em vista o que conversamos até aqui, podemos afirmar que oscilações na competência do sistema imune podem ocorrer em todos nós. Além das doenças, fatores como cansaço crônico, estresse crônico, privação de sono, má alimentação (aqui me refiro à qualidade, não quantidade), obesidade e sedentarismo podem resultar em períodos de menor competência imune e maior frequência de infecções banais.

Para esses casos, que é o da grande maioria das pessoas que se preocupam com a imunidade, corrigir os fatores citados no parágrafo anterior será suficiente.

Correção do defeito do sistema imune

Seria possível corrigir defeitos do sistema imune, ou seja, uma imunodeficiência primária? Sim, há situações em que isso é possível.

A situação mais evidente e fácil de tratar é quando há deficiência de anticorpos (em especial de um tipo de anticorpos, chamados de imunoglobulinas G, ou IgG). Indivíduos com essa deficiência podem receber, mensalmente, uma dose de IgG (na veia ou em injeções no subcutâneo), corrigindo a deficiência para a maioria das infecções oportunistas e banais.

Por ser uma proteína complexa, há certa dificuldade em sintetizar anticorpos em laboratório. Além disso, precisamos de imunoglobulinas que reconheçam milhares de componentes de muitos agressores para termos defesas adequadas. Por isso, a dose de IgG que os pacientes recebem vem da doação de sangue de milhares de pessoas. Receber IgG desse grande número de pessoas garante grande diversidade de anticorpos e maior chance de defesa. Ressalto que muitas vezes o tratamento é para toda a vida. E, apesar de bastante caro, é oferecido aos pacientes do Sistema Único de Saúde.

Reposição de imunoglobulina G é muito segura e feita ao longo de algumas horas. •Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay

Alguns tipos de imunodeficiência decorrentes de defeitos nos glóbulos brancos podem ser tratados com transplante de medula óssea. É algo não corriqueiro e muitas vezes restrito a protocolos de pesquisa. Mas os resultados têm sido promissores e pode ser que algum dia o procedimento seja realizado para maior número de pessoas.

Correção da desnutrição

Alimentação em quantidade e qualidade adequadas é suficiente para recuperar a imunidade de boa parte dos desnutridos. Algumas vezes será necessária a reposição de um ou mais nutrientes específicos, o que é feito com o auxílio de profissional da nutrição (nutricionista ou nutrologista). Esses profissionais podem definir quais elementos nutricionais são mais carentes e qual a velocidade da recuperação nutricional.

Cada uma das doenças crônicas já citadas pode demandar recomendações nutricionais específicas. Isso, por si, pode prevenir carências nutricionais e eventual mau funcionamento do sistema imune.

O envelhecimento é outra situação em que pode ser necessária alguma suplementação dietética. Os fatores que influenciam essa maior necessidade são muitos, mas dois merecem destaque: alguns idosos apresentam mudança de hábito alimentar, passando a comer menos e com dieta de baixa qualidade; o corpo humano tende a absorver menos nutrientes na velhice. Em todas as situações acima, a conduta dietética visa a restaurar níveis adequados de nutrientes. Em nenhuma situação se recomenda suplementar o que não é deficiente. Por isso, friso: para a maior parte das pessoas, a alimentação saudável é suficiente para o funcionamento adequado do organismo como um todo, e da imunidade em especial.

Tratamento das doenças crônicas

Tratar as doenças crônicas da melhor forma e, se possível, recuperar função de órgãos e sistemas é muito importante para evitarmos imunodeficiência, em especial a secundária.

Dentre as doenças crônicas, o diabetes é o que mais contribui para imunodeficiência. Imagem de Agg Alez por Pixabay

Quando as doenças de base exigem o uso de medicamentos que reduzem a imunidade (imunossupressores), a redução da quantidade e do tempo de uso, e mesmo a suspensão dessas medicações podem ser necessárias. Há tratamentos imunossupressores que acabam por representar mais risco (de infecção grave ou fatal) do que um efeito benéfico no tratamento da doença. Há que ser atingida uma situação de melhor benefício e menor risco.

Antimicrobianos

Também é óbvio que a cada infecção o paciente com imunodeficiência receberá medicação apropriada para cada germe invasor – vírus, bactéria, fungo ou protozoário. Mas os antimicrobianos podem ter outro papel, que é o de evitar uma futura infecção. A isso damos o nome de profilaxia.

Para os casos de imunodeficiência “leve”, como com níveis de anticorpos no sangue pouco baixos, pode-se optar pela profilaxia com antimicrobianos (antivirais, antibióticos e/ou antifúngicos) em vez de fazer a reposição de IgG. Dessa forma, pode-se conseguir que o número de infecções (pouco) aumentado deixe de ser um problema.

Outras imunodeficiências (de alguns tipos de glóbulos brancos) podem ser também tratadas somente com o uso de antimicrobianos de forma profilática. Note, os antibióticos não corrigem a imunodeficiência, mas dão uma “mão” ao sistema imune ao imobilizar ou matar os germes e permitir que a batalha seja vencida pelo sistema imune, mesmo um tanto deficiente.

Vacinação

Outros defeitos do sistema imune, como a deficiência de outras proteínas (não os anticorpos), podem ser amenizados com o estímulo para produção de anticorpos específicos para alguns germes, por meio de vacinação. Além do calendário vacinal disponível para todos, há algumas vacinas que devem ser indicadas para esses indivíduos – multivalente para meningococo (bactéria que causa meningite) e vacinas contra as bactérias pneumococo e hemófilo.

Pergunta n.5: Há alimentos, suplementos ou remédios para aumentar a imunidade?

A questão anterior abordou situações em que a imunidade estava verdadeiramente diminuída. Nesta, vamos conversar sobre situações em que há intenção de aumentar a imunidade de indivíduos sem imunodeficiência. Como escrevi na introdução deste texto, não faz sentido qualquer atitude para aumentar a imunidade de alguém que tem um sistema imune sem anormalidades.

Aumentar a imunidade, além de desnecessário, poderia levar a eventos indesejados. Imagine esse sistema, que só deve ser ativado se houver um agressor, ficar constantemente trabalhando, dando uma resposta quando esta não é necessária. É um desperdício de energia. Além disso, os órgãos (já que não há agressor a eliminar) estariam expostos a receber uma reação que poderia lhes trazer danos (algo como um fogo amigo).

Algum alimento é capaz de aumentar a imunidade?

A resposta aqui é mais fácil. Não há, até o momento, nenhum estudo que comprove que determinado alimento seja capaz de aumentar a imunidade. Todo alimento que ingerimos deve fazer parte de uma alimentação saudável e que nos proporcione quantidades adequadas de açúcares, proteínas, gorduras e micronutrientes (as vitaminas e os minerais).

Não há alimento mágico. Deve-se comer bem e de tudo, como em toda alimentação saudável. •Imagem de Vlad Vasnetsov por Pixabay

A composição de micronutrientes de cada alimento é diferente, por isso, alguns podem ser maiores ou menores fontes de alguma vitamina ou mineral em especial. Devemos ingerir laranja e acerola, ricas em vitamina C, para não termos mais gripes? Há vários outros exemplos de crenças que relacionam a ingestão alimentos e o combate de alguma infecção, mas nada comprovado.

A impressão que se tem, até o momento, é a de que todos os nutrientes devem ser ingeridos em quantidade adequada e que em conjunto contribuem para a saúde como um todo (e em consequência para termos menos infecções).

Função dos micronutrientes

Há um crescente uso de suplementos de micronutrientes com a intenção de melhorar a saúde.  Muito do que se sabe a respeito de funções específicas desses nutrientes no sistema imune vem de estudos in vitro (com células retiradas do organismo e mantidas vivas em placas de laboratório) ou em animais. Há poucos estudos em humanos e em situações da vida real, do dia a dia. Por isso mesmo, devemos ter muito cuidado com a extrapolação de resultados dos estudos in vitro e em animais para condutas relacionadas à saúde.

Os principais micronutrientes que têm função na imunidade são: as vitaminas A, B6, B12, C, D, e E, folato, ferro, zinco, magnésio, cobre e selênio. Foge ao nosso objetivo expor o que é sabido dos estudos para cada micronutriente individualmente.

Há evidências de que a deficiência global desses micronutrientes tem efeito negativo em praticamente todas as funções das células do sistema imune, inclusive na capacidade de os linfócitos B produzirem os anticorpos. Deficiência dos micronutrientes aumenta a mortalidade por diarreia, pneumonia e sarampo. Há também evidência de aumentos da frequência de infecções respiratórias em crianças.

Fica a pergunta: o maior número de infecções é decorrente da desnutrição global ou da falta dos micronutrientes? É difícil, como já sabemos, separar uma coisa da outra. É mais provável que ambas contribuam.

Volto a frisar: há uma quantidade ótima de micronutrientes para uma boa imunidade e isto é conseguido através da alimentação para a grande maioria das pessoas, sendo a suplementação, assim, desnecessária. Não faz sentido dar suplementos de vitaminas e minerais a todas as pessoas. Presenciei, algumas vezes, efeitos tóxicos da suplementação vitamínica em indivíduos saudáveis e sem imunodeficiência.

Remédios para aumentar a imunidade?

Bom, aqui também cabe a resposta: não e sim.

Da mesma forma que não tem sentido aumentar uma imunidade normal, também não há remédio que aumente a imunidade. Para os casos de imunodeficiência, o que pode ser feito já foi apresentado acima.

Há tratamentos que podem contribuir para uma maior atividade de um tipo específico de glóbulo branco, os linfócitos T. São usados em situações muito específicas, como no tratamento de cânceres.

As células imunes estão sob estritos mecanismos de controle, do contrário, elas poderiam dar uma resposta maior que o necessário ou por tempo indefinido. Esses mecanismos funcionam como freios. Os medicamentos em questão atuam reduzindo esses freios, liberando as células imunes para produzirem uma resposta mais potente e duradoura, na esperança de que consigam eliminar as células cancerígenas. Por esse ponto de vista, sim, podemos dizer que esses medicamentos aumentam uma função específica do sistema imune.

Quer ler um pouco mais sobre o sistema imune?

https://openstax.org/books/biology-ap-courses/pages/33-introduction

4 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *